Segundo uma notícia da Lusa, um indivíduo baleou dois vizinhos por achar que um deles, por ser homossexual, andava a sodomizar-lhe o gato. Ao que parece, o gato fugiu e quando o seu dono andava a tentar apanhá-lo, foi ajudado por um vizinho. Como este vizinho era homossexual e como os homossexuais não devem ter mais o que fazer do que andar a ir ao rabo a gatos, o dono do gato achou que o seu gato andava a ser sodomizado e, vai daí, tentou matar o vizinho (felizmente não conseguiu, senão o gato ia sentir-se sozinho).
Ok, isto é profundamente ridículo! Além disso faz lembrar aquela anedota do rapaz que aparece em casa todo arranhado e depois de muito se tentar justificar junto dos pais, diz "Porra, o gato é meu, vou-lhe ao cú as vezes que quiser!". Será que o dono do gato teve ciúmes? E se sim, de quem? Do gato ou do vizinho?
Também ridícula é esta frase do magistrado, que condenou o dono do gato a pouco mais de 5 anos de prisão: "Dar um tiro em alguém por ser homossexual e por supostamente ter tido relações sexuais com um gato que ajudou a resgatar, e por isso o animal ter ficado paneleiro, é talvez o motivo mais torpe que eu já vi na minha vida". Este mesmo magistrado, comparou o comportamento do dono do gato, ao dos jovens que mataram a Gisberta.
Ponto 1 - O magistrado usou mesmo a palavra "paneleiro" em tribunal? Sim, porque isso não é nada ofensivo nem torpe e não revela nada sobre as ideias que o próprio magistrado tem acerca dos homossexuais.
Ponto 2 - Se este caso é tão semelhante ao da Gisberta, porque é que os jovens que mataram a Gisberta não foram condenados a 5 anos de prisão e a família da Gisberta nem sequer foi indemnizada?
Ponto 3, e mais importante - Como é que fica o gato no meio disto tudo?
Como já há muito tempo que os nossos tribunais não faziam porcaria (ou seja, ninguém devia estar a trabalhar), ontem o Tribunal da Relação deu razão ao Tribunal do Trabalho no despedimento de um cozinheiro por ele estar contaminado com VIH.
Só para esclarecer, o que eu acho estúpido aqui não é que tenha dado razão ao despedimento do cozinheiro. Isso eu até consigo entender. Para começar, se se ficasse a saber que ele era seropositivo, era mau para o negócio. Politicamente correctos à parte, quantos de nós continuaríamos a comer alegremente se nos viessem dizer que aquela iguaria tinha sido confeccionada por um sujeito infectado com o vírus da SIDA?
O que continua a parecer-me ridículo é o argumento de que o vírus está presente no sangue, suor e lágrimas, podendo contaminar clientes que tenham feridas na boca. Sim, foi este o argumento do tribunal... Bom, a partir de hoje, quando virem alguém a andar na rua dentro de uma bolha, ficam a saber que sou eu! É verdade que todos os dias se descobrem coisas novas etc, etc, etc, mas por essa lógica, mais vale não sair de casa.
Se a carga viral existente na saliva, suor e lágrimas fosse suficiente para a transmissão do vírus, ninguém podia andar nos transportes públicos no Verão em hora de ponta! Já para não falar nos apertos de mão, beijinhos, abraços ou gafanhotos e postas de pescada mandadas por um potencial juiz com SIDA!
No fundo, estes juízes estão a pôr a saúde pública ainda mais em risco que o cozinheiro porque em poucas frases acabaram de destruir todas as campanhas de prevenção da SIDA feitas até hoje. Anda-se a tentar convencer as pessoas a usarem preservativos, a não partilharem seringas e a fazerem testes antes de engravidarem para agora elas poderem dizer "Que se lixe, também não vou deixar de beijar o meu namorado".
Parece-me que devíamos mudar de novo o Código Penal para incluir o crime de estupidez.
. Dona Maroca, seu gato deu...
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