"Fantasmagóricos sons de pancadas e o derrube de mesas pesadas eram considerados obra de espíritos pelos espiritistas do século XIX. Alguns parapsicólogos modernos, porém, tendem a suspeitar da intervenção da mente inconsciente em tais ocorrências. E a fim de estudar a potencial influência da mente sobre objectos inanimados, um grupo formado pela Sociedade de Pesquisa Psíquica de Toronto, Canadá, iniciou uma experiência notável. Nos primeiros anos da década de 70, o grupo de 8 membros inventou uma figura inexistente do passado, após o que envidou todos os esforços com vista a fazer o fantasma inventado manifestar-se.
Na sua introdução a Conjuring Up Philip, o conselheiro científico do grupo, Dr. A. R. G. Owen, membro do Departamento de Medicina Preventiva e Bioestatística da Universidade de Toronto e investigador psíquico em vias de se especializar em casos de Poltergeist, escreveu: «Era essencial para o objectivo que eles se propunham que Philip fosse uma personagem totalmente fictícia. Não apenas um produto de imaginação, mas declarada e obviamente irreal, com uma biografia cheia de erros históricos».
Um dos membros do grupo, identificado apenas como Sue, mãe de 3 rapazes e antiga enfermeira nas Forças Armadas Canadianas, foi encarregado de forjar a história básica da vida de Philip. Escreveu ela: «Philip era um aristocrata inglês que viveu em meados do século XVII, no tempo de Oliver Cromwell. Fora partidário do rei e era católico. Estava casado com uma mulher bela, mas racional e frígida, Dorothea, filha de um nobre vizinho. Um dia, quando cavalgava junto aos limites das suas propriedades, deparou-se a Philip um acampamento de ciganos, entre os quais ele viu uma bela cigana de olhos escuros e cabelo negro de azeviche, Margo, pela qual imediatamente se apaixonou.
«Trouxe-a secretamente e instalou-a na casa junto ao portão, perto dos estábulos de Diddington Manor - a sua residência familiar. Durante algum tempo manteve secreto o seu ninho de amor, mas finalmente Dorothea suspeitou do que se passava, descobriu Margo e acusou-a de bruxaria e de lhe roubar o marido. Philip, demasiado receoso de perder a sua reputação e as suas posses, não ousou depor em tribunal em defesa de Margo, a qual foi condenada por bruxaria e queimada na fogueira. Subsequentemente, Philip, dominado pelos remorsos de não ter tentado defender Margo, criou o hábito de percorrer a passos largos, deseperado, as muralhas de Diddington. Finalmente, uma manhã, o seu corpo foi encontrado na base das muralhas, do cimo das quais se lançara num gesto de agonia e remorso.»
Embora exista um lugar chamado Diddington Hall no Warwickshire, Inglaterra, Philip era uma personagem inteiramente fictícia.
Os membros do grupo memorizaram os dados biográficos fictícios sobre Philip, elaboraram ainda outros pormenores, estudaram o período durante o qual ele supostamente vivera e adquiriram mesmo fotografias do verdadeiro Diddingnton Hall e da região campestre que o rodeia. Procuraram criar «uma alucinação colectiva» de Philip, descrevendo o seu aspecto, preferências alimentares e «especialmente os seus sentimentos para com Dorothea e Margo», até terem criado um quadro mental completo dele ao qual todos poderiam referir-se.
Durante meses a fio as 5 mulheres e os 3 homens que integravam o grupo envidaram todos os esforços para invocar o espírito fictício que haviam criado. Sentados em círculo, em redor de um desenho do seu pretenso fantasma, meditaram na sua imagem.
A primeira manifestação do fantasma recebida pelo grupo foi uma pancada na mesa mais sentida do que ouvida; todos os presentes notaram uma vibração. Seguiram-se várias pancadas curtas e secas, como se alguém tivesse batido na mesa. Inicialmente os participantes suspeitaram que as pancadas haviam sido inadvertidamente provocadas por eles próprios.. Quando, porém, a mesa começou a mover-se pelo soalho de uma forma irregular e aparentemente sem objectivo, começaram a interrogar-se entre si. Finalmente, um membro do grupo perguntou: «Será Philip o responsável por estas ocorrências?» Como resposta ouviu-se uma pancada muito sonora. Tudo parecia indicar que, finalmente, o fantasma imaginário chegara.
Formulando perguntas e aceitando uma pancada como uma resposta afirmativa e duas como uma resposta negativa, o grupo em breve estabelecia um diálogo relativamente rápido com a entidade que aparentemente conjurara. A bizarra aventura depressa adquiriu novas dimensões: um quarto da casa foi reservado a Philip, e a personalidade fantasmagórica foi aceite como uma entidade distinta que patenteava gostos e aversões, tinha opiniões abalizadas sobre alguns assuntos e menos seguras sobre outros.
Quando se perguntou a Philip se a sua mulher, Dorothea, se recusava a ter filhos, ouviu-se a madeira a ser arranhada. Um dos membros do grupo sugeriu: «Talvez ele esteja a tentar dizer-nos que estamos a abordar assuntos demasiado pessoais. Talvez ele não queira discutir todos estes pormenores íntimos». Em resposta ouviram-se umas sonoras pancadas afirmativas.
Mrs. Owen e Sparrow notaram que «as pancadas e os movimentos da mesa pareciam intimamente relacionados, se não de facto suscitados, pelo conhecimento, pensamentos, vontade, disposição e poder de concentração de cada membro do grupo». Se o grupo concordava com a resposta à pergunta, a pancada afirmativa era rápida e sonora; quando alguns dos membros alimentavam dúvidas, as pancadas eram mais hesitantes.
À medida que se descontraíam e começavam a apreciar os seus encontros com Philip, os investigadores começaram a reagir como se ele fosse de facto outro membro do grupo. Arreliavam-no, brincavam e namoriscavam com ele. Quando, porém, advertiram Philip de que se ele não respondesse «nós podemos mandar-te embora e arranjar outro», as pancadas cessaram e foi difícil restabelecer a comunicação. No entanto, por fim, as pancadas e os movimentos da mesa continuaram; segundo os relatos, a mesa precipitava-se em direcção aos retardatários, prendendo ocasionalmente membros do grupo num canto da sala.
Em resumo, os investigadores haviam sido bem sucedidos para além das expectativas, embora nenhum compreendesse como nem porquê. Tal como Mrs. Owen afirmou: «Compreendemos e provámos claramente que não existe qualquer espírito por detrás das comunicações; as mensagens provêm do subconsciente do grupo, mas é sobre a força física que precisamos de saber mais»."
Fronteiras do desconhecido
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