Terça-feira, 4 de Setembro de 2007

A culpa não foi minha

Há algum tempo, um canal televisivo decidiu passar uma espécie de documentário sobre as pessoas que passam muito tempo em frente ao computador, principalmente os viciados em videojogos. Obviamente, não tive paciência para ver sequer 5 minutos do referido programa. E isto porquê?

O início da reportagem era parecido com isto: mostravam vários prédios, de noite, com luzes acesas e diziam que por detrás daquelas luzes estavam viciados em frente aos respectivos computadores. Reparem, não podiam ser pessoas a chegar a casa do trabalho, a tratar das suas lides domésticas, a ver TV, a ler um livro, a conviver com amigos, a ter sexo com a luz acesa, em frente ao computador a fazer outra coisa qualquer que não seja jogar, ou até simplesmente alguém que nem sequer está em casa e que se esqueceu de apagar a luz ao sair. Não, eram obviamente viciados em videojogos ou jogos online...

Depois vinham os juízos de valor sobre a forma como a internet mudou os padrões de socialização das pessoas. As pessoas já não convivem pessoalmente umas com as outras, já não têm amigos reais mas sim amigos virtuais. Os videojogos e jogos online, em particular, são criações de satanás com o objectivo de tornar as pessoas violentas e anti-sociais. E isto sem pensar nos perigos para a segurança de todos e, principalmente, das pobres criancinhas que, apesar de estarem mais violentas devido aos videojogos, continuam à mercê de todo o tipo de tarados! Como se pode ver, a internet é responsável por todos os males do mundo.

Agora, aqui ficam as minhas respostas a este tipo de preocupações:

1 - Quem já tinha amigos reais, continua a tê-los. Nunca ouvi falar de ninguém que tivesse dito a um amigo "olha, agora já não quero mais nada contigo porque tenho amigos virtuais melhores que tu". Assim sendo, continua a ter amigos reais e ainda tem amigos virtuais, o que quer dizer que se aperfeiçoou socialmente.

2 - Quem já não tinha amigos reais, provavelmente já era uma pessoa com problemas de socialização de qualquer maneira e, neste caso, a internet até pode ajudar a socializar. Ou seja, mais vale ter um amigo virtual do que não ter nenhum.

3 - Quanto aos crimes que podem ser cometidos ou facilitados através da internet, como por exemplo burlas, estas também já existiam antes, apenas noutros formatos. E para aqueles que estão tão preocupados com a segurança das crianças, lembrem-se que já havia homicídio, rapto, abuso sexual, pedofilia e muitas outras coisas antes da internet existir. Se as crianças dão a estranhos dados pessoais que não deviam dar, o que falha é a educação. Porque, no fundo, uma criança que faz isso através da internet, também falaria com qualquer estranho que lhe aparecesse na rua e que tivesse uma história minimamente bem construída do género "sou amigo dos teus pais".

4 - Quanto aos jogos, já havia jogos violentos antes de existir internet ou mesmo computadores. Por exemplo, a batalha naval é um jogo violento... Pensando já nos videojogos, até o pac-man é um jogo violento. Mas, tal como já disse anteriormente no post "é para partir a loiça toda", a vida é violenta! Uma pessoa pode sair calmamente à rua e ser trucidada por um condutor bêbado, pode ser esfaqueada para lhe roubarem uns reles trocados, pode andar todos os dias a levar carolos dos colegas de turma, pode ver o telejornal e ser exposta às imagens violentas dos atentados diários que há em Bagdad, and so on... No fim de contas, se a pessoa passar o dia a jogar jogos violentos e nunca sair de casa, continua a expor-se à violência mas a probabilidade de ser vítima de um acto violento diminui exponencialmente.

5 - Em tempos, quando os fósforos surgiram pela primeira vez, também foram demonizados por gente que dizia que eles iam provocar a perdição da humanidade e que podiam causar grandes desastres se se acendessem sozinhos. Não vejo agora ninguém a falar do efeito prejudicial dos fósforos... Houve um sujeito que matou os pais dizendo que eram agentes da Matrix e também há quem mate dizendo que foi Deus que mandou. Se calhar fazíamos melhor se fossemos pedir satisfações a Deus. Parece-me que com os videojogos é a mesma coisa: servem de desculpa para tudo, é como dizer "eu não tenho culpa, eu não queria mas os videojogos obrigaram-me". O rapaz coreano que, há algum tempo, massacrou os seus colegas de escola nos EUA, parece que só costumava jogar Sonic the Hedgehog! Honestamente, vi o ouriço fazer muita coisa estúpida mas acho que nunca o vi massacrar colegas de escola.

Portanto, e para finalizar, deixem-se de tretas e, da próxima vez que quiserem fazer uma reportagem sobre o efeito prejudicial das novas tecnologias, falem dos canais televisivos que, à falta de terem temas interessantes para apresentar, transmitem reportagens sensacionalistas com o único intuito de alarmar a população.

publicado por bonecatenebrosa às 12:26
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