"Durante séculos prevaleceu a noção do exorcismo dos diabos que habitam nos humanos. Algumas escrituras sugerem que Jesus era um exorcista. De acordo com S. Marcos 1, 32-34, «Ao cair da tarde, quando o sol se pôs, trouxeram-lhe todos os enfermos e possessos, e a cidade inteira estava reunida junto à porta. Curou muitos enfermos atormentados por diversos males e expulsou muitos demónios.»
A partir de 1614, a Igreja Católica Romana passou a ter um ritual formal de exorcismo, o Rituale Romanum. Eram os tempos em que a sineta de uma igreja era usada como cálice para administrar uma «santa poção» de xerez, óleo e ervas. A relíquia de um santo podia ser metida à força na boca do «possuído» e o facto deste se debater era tomada como mais uma prova de que existiam demónios no seu interior.
Todavia, este processo não se restringia apenas à Igreja Católica. A fé Judaica e a Igreja Protestante também têm uma história de exorcismos, bem como a nova vaga de Igrejas Carismáticas e os ministérios de «libertação» a elas associados. Contudo, muitas das pessoas exorcizadas ao longo dos séculos estavam na verdade a sofrer de enfermidades físicas ou psicológicas.
Nos nossos dias, as autoridades tanto da Igreja Católica como Protestante não se manifestam a respeito do diabo e da sua habilidade para invadir os humanos. Sacerdotes e ministros excessivamente zelosos - e até exorcistas leigos - criaram graves problemas nas mentes frágeis daqueles que diagnosticaram como estando possuídos pelo demónio.
Cada diocese católica tem um sacerdote responsável pelo exorcismo apesar de manterem um grande segredo em relação ao que na realidade fazem. Sabe-se que, em 1982, o Papa João Paulo II executou um exorcismo a uma mulher jovem, mas o Vaticano recusa-se a fornecer mais pormenores ao mundo. Todavia, o padre Gabriele Amorth, o principal exorcista de Roma, insiste que «a Igreja nunca teve dúvidas de que o diabo existe. Hoje, a nossa linguagem pode ser mais discreta, mas a ideia permanece a mesma».
Para dar uma escala a esta afirmação, o padre Amorth revelou que das 50000 pessoas que o foram consultar, só 84 eram genuínos casos de possessão. Os exorcistas católicos legítimos afirmam ter visto os seus «pacientes» levitar até ao tecto, vomitar pregos, cacos de vidro e peças de equipamentos de rádio, exibir uma força extrema e ficarem paralisados. Outros alegados efeitos dos exorcismos incluem diarreia, cuspidelas, vómitos e objectos voando pelos ares.
Também os anglicanos treinaram exorcistas que têm de trabalhar de acordo com regras estritas estabelecidas em 1975. Em parte, essas regras surgiram por causa de um marido que assassinou a mulher em 1974 depois de uma sessão de exorcismo à meia-noite, numa igreja paroquial do Yorkshire. No julgamento, a defesa afirmou que o homem agira num ataque de loucura incitado pelo exorcismo oficiado por um vigário da Igreja de Inglaterra, por um ministro metodista e pelas respectivas esposas.
Contudo, o sistema de exorcismos tem estado aberto a abusos e o cónego Dominic Walker, presidente do grupo de estudos da Libertação Cristã - monitor oficial da Igreja para os exorcismos - admite que os exorcistas não treinados constituem uma grande preocupação. Algumas pessoas alegadamente possessas chegaram a ser espancadas quando os exorcistas tentavam expulsar os demónios dos seus corpos. Uma infeliz mulher foi obrigada a permanecer num quarto fechado contra a sua vontade, e ficou cada vez mais assustada e histérica não por causa dos demónios, mas sim com o que tentavam fazer-lhe.
Uma mulher de 56 anos das Midlands foi informada pelo vigário local de que se encontrava infestada por mais de 100 demónios, teve um colapso e acabou por perder o emprego como gestora numa companhia de seguros.
«Costumava segurar-me - com a ajuda de outros -, e gritava-me, ordenando aos espíritos malignos que abandonassem o meu corpo. Agora, já não acredito em demónios. Tornei-me agnóstica. Nunca mais entrarei numa igreja. Senti-me violada emocionalmente.»
Outra vítima de um «ministro da libertação» foi uma mulher de 50 anos, exorcizada por leigos duas vezes por semana durante quase um ano, tudo com a aprovação do vigário local. «Fizeram-me uma verdadeira lavagem ao cérebro. Só podia ver certos programas de televisão e ler certos livros, pois caso contrário, tal como me disseram, receberia demónios dessas coisas.» A mulher teve um colapso e passou cinco semanas num hospital."
História do sobrenatural
Karen Farrington
. 6.ª Sobrenatural - "Exorc...