A SIC decidiu pôr um puto que parece saído do The Omen - O Génio do Mal a partir 3 televisões em cerca de 5 segundos. Depois disto, até passa para segundo plano o facto do governo ter pago 30 euros a miúdos para testarem os computadores... Mas voltando ao assunto inicial, surgiu logo gente preocupada com a forma como aquele comportamento poderia influenciar as crianças, tornando-as mais violentas.
Sinceramente, o que me preocupa é que o puto deve ter sido pago para fazer aquele trabalho. Admito ter uma certa inveja, tendo em conta que, só de ver o anúncio das Chiquititas, também já me apeteceu rachar a televisão à machadada e ninguém me iria pagar para isso. No fundo, parece-me que aquele anúncio pode ser contraproducente, dando a ideia que a programação da SIC é tão má (ou boa mas tardia) que só apetece partir a televisão...
Quanto ao incentivo à violência, algumas pessoas podem achar que aquilo que eu vou dizer é quase uma heresia, mas é o que eu penso: a violência é adaptativa. Aquilo que nos distingue dos outros animais não é a linguagem nem a inteligência, mas sim a capacidade para usar a violência de forma diversificada.
Passo a explicar. Está provado que outros animais também comunicam, basta ver programas da vida animal e não restam grandes dúvidas que, embora possam usar sistemas de comunicação bem mais rudimentares, não deixam de ser formas de linguagem. Ainda que não possuam inteligência abstracta, vários animais, desde ratos a macacos, dispõem de uma inteligência de tipo concreto, não muito diferente da de uma criança de 5 anos que percebe que pondo o banco em cima da mesa e trepando, consegue alcançar a caixa das bolachas. No entanto, a maior parte das espécies animais apenas usa a violência em 4 situações: auto-defesa, delimitação e protecção do seu território, alimentação e obtenção de supremacia enquanto parceiro sexual.
Importa agora partilhar convosco uma história que um professor meu contou, em tempos numa aula. Devo dizer que foi um dos professores mais espectaculares que já tive e um dos mais prestigiados na sua área. A história era esta: um grupo de primatas (penso que eram chimpanzés) vivia numa comunidade à qual vamos chamar Grupo A. Como é normal, um dia, o líder do grupo foi desafiado por outro e o líder ganhou. No entanto, deu-se algo novo, já que o seu desafiador retirou-se do Grupo A e foi viver para outro território, tendo sido seguido por alguns elementos que também faziam parte do Grupo A. Formou assim o Grupo B que, devido à sua distância geográfica, não representava qualquer tipo de ameaça para o Grupo A, em qualquer um dos níveis que mencionei no parágrafo anterior. No entanto, os membros do Grupo A seguiram o Grupo B e exterminaram-no.
Serve esta história para mostrar que, um dos animais que é evolutivamente mais próximo do Homem, é um dos poucos (ou talvez o único) que usa a violência para obter vingança ou por puro prazer. Assim sendo, se nos consideramos tão evoluídos, temos de admitir a hipótese de que a violência pode ter uma função evolutiva e adaptativa.
Ora, a violência não surgiu só depois do aparecimento da televisão. Todos os países (ou territórios) que conhecemos hoje foram formados através do recurso à violência: duas ou mais facções combateram e os resultados permitiram o estabelecimento das fronteiras tal como as conhecemos. Aliás, desafio aqui qualquer pessoa a indicar o nome de um país que, ao longo da sua história, nunca tenha sido palco de uma guerra com outro território ou entre vários elementos do mesmo território.
As crianças não são diferentes do resto das pessoas e aprendem facilmente. A televisão, quanto muito, potencia essa aprendizagem mas, se uma criança nunca vir televisão na vida, vai aprender a ser violenta à mesma porque o simples facto de conviver com pais, irmãos, amigos, inimigos e/ou desconhecidos, vai conduzir a uma aprendizagem social da violência que, quanto muito, pode ser mais ou menos controlada.
O mundo é violento, os telejornais provam-no bem. A existir, uma pessoa totalmente pacífica, facilmente se tornaria num verdadeiro saco de pancada. Falando honestamente: se no mundo todos fossemos pacíficos e, subitamente, uma pessoa se tornasse violenta, quem acham que ia durar mais tempo? Os pacíficos unidos ou o violento sozinho? Caramba, até o Gandhi era violento no sentido em que, pacificamente, oferecia resistência! Portanto, deixem-se de pieguices sobre a violência na televisão. O telejornal, com toda a sua violência, é um dos programas mais educativos que se pode encontrar.
. É para partir a loiça tod...