Ao que parece, um padre do concelho de Barcelos quer que os crentes lhe paguem um dia do salário mensal, deixando de ministrar os sacramentos a quem não o fizer e aplicando multas àqueles que se atrasarem a efectuar os pagamentos.
A população passou-se! Alguns dizem que há reformados que passam fome e não têm luz eléctrica. Outros têm medo que as criancinhas fiquem por baptizar e os mortos por enterrar.
E agora pergunto eu: haverá aqui alguma dificuldade no estabelecimento de prioridades? E respondo: sim!
Primeiro quero chamar a atenção para uma coisa: não vão nas conversas dos padres. Não caiam na esparrela de eles dizerem que conhecem a palavra de deus porque a palavra de deus é ambígua como o caraças. Mesmo que não fosse, tanto quanto me lembro da catequese (sim, tempos amargos), quando deus quer mesmo falar com alguém, não precisa de mensageiros nem de intérpretes, vai lá e fala. Dizem que fez isso a um gajo quando ele andava pelo deserto e a outro num monte...
De qualquer modo, daquilo que percebo, deus não exige um dízimo para si porque se auto-intitula dono de tudo o que existe, mas recomenda o pagamento de dízimos a funcionários, sacerdotes, pobres, viúvas e órfãos. Ora, isto engloba praticamente toda a população portuguesa, com excepção de políticos, o Belmiro de Azevedo e o Jardim Gonçalves. Assim sendo, também eu posso andar aí pelas ruas a pedir o dízimo. A questão que se põe é: será alguém suficientemente estúpido para mo pagar?
Portanto, a meu ver, o padre pode pedir e ameaçar o que quiser. Quem tiver fome, mande-o passear e vá comprar comida. Quem quiser baptizar o bebé, mande-o passear e vá ao rio fazer como João Baptista (que não era padre porque na época ainda não havia padres) e quem quiser ser enterrado (ideia interessante) ou enterrar o seu familiar defunto (convém que assim esteja), faça-o de forma não religiosa. Agora, por via das dúvidas, não deixem o padre chegar-se perto das criancinhas, não vá ele querer que lhe paguem em géneros aquilo que não for pago em euros...