Terça-feira, 8 de Janeiro de 2008

Talvez seja altura de pôr os gémeos a render

Notícia do Sapo: "Com o dinheiro do fundo Find Madeleine a esgotar-se, Kate e Gerry procuram outras formas para financiar a procura pela filha que desapareceu na Praia da Luz no passado dia 3 de Maio. Segundo o jornal britânico The Guardian, a produção de um filme sobre o desaparecimento de Maddie pode ajudar a resolver os problemas financeiros da campanha dos McCann".

E não é que a miúda, mesmo desaparecida ou morta ou ambas, dá mais lucro à família do que antes, quando tinham de lhe pagar comida, roupa, médicos e creches? Qual abono de família qual carapuça!

publicado por bonecatenebrosa às 19:29
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Quinta-feira, 20 de Setembro de 2007

Para a próxima não o larguem

No dia 14 de Julho de 2004, uma criança de 2 anos e 9 meses e os seus pais foram a uma loja de electrodomésticos para "comprar uma máquina de lavar e enquanto estavam a conversar o menor foi para cima de uma cisterna num pátio atrás do estabelecimento, pode ler-se na Acusação. Uma vez aí, a criança pegou numa garrafa de plástico transparente de litro e meio e que tinha um papel branco desenhado à mão com uma caveira e dois ossos e bebeu parte do respectivo conteúdo que se apurou ser um produto altamente tóxico, hidrocarboneto aromático metilbenzeno (tolueno), cuja ingestão veio a ser causa directa e necessária da sua morte, refere o despacho. No pedido de abertura da instrução, os pais imputam aos arguidos a responsabilidade na morte do menor, porque não o impediram de ir para aquele local, sabendo que lá existia esse líquido tóxico". Esta é uma notícia divulgada hoje pela agência Lusa.

Pois eu limito-me a dizer que, seja qual for o resultado do processo, se eu fosse um dos donos da loja de electrodomésticos, a seguir processava os pais da criança por negligência já que, afinal de contas, eles é que são responsáveis pelo filho e deviam ter tomado conta dele enquanto estavam na loja. Para além disso, acusava-os de roubo, uma vez que o filho deles consumiu um produto que não lhes pertencia e que não foi pago. Quer dizer, uma pessoa tem um filho, é irresponsável ao ponto de o deixar andar a cirandar por aí e depois, quando as merdas acontecem, a culpa é sempre dos outros!

Os pais queixam-se que não foram avisados de que existia um líquido tóxico naquele local. Bom, os donos da loja também não foram avisados por ninguém de que aqueles pais eram irresponsáveis. O mal foram as falhas na comunicação...

publicado por bonecatenebrosa às 23:11
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Domingo, 9 de Setembro de 2007

É bom quando tudo faz sentido

Até agora tenho evitado fazer grandes comentários ao desaparecimento da Madeleine. Não tenho paciência para posts lamechas que apelam à bondade das pessoas nem para os indignados com a maldade do mundo. Há coisas que sempre achei que não batiam certo mas isso também nunca foi grande novidade, por isso não havia muito a dizer.

Agora, o que eu acho piada é que as pessoas que de início criticavam os pais por serem negligentes, que os acusavam de ter comportamentos sexuais perversos e de terem drogado os filhos, pouco tempo depois começaram a mostrar-se extremamente solidárias, com pena dos pobres paizinhos e, agora, vão para a porta da PJ vaiar e insultar as mesmas pessoas que até há pouco tempo apoiavam. Isto não é propriamente notícia no nosso país. Já se sabe que boa parte das pessoas não tem opinião, limitando-se a baloiçar conforme manda a comunicação social e, pelo caminho, vão dando espectáculo. Na política também é assim, portanto como o exemplo não vem de cima, também não se pode esperar muito...

Outra coisa engraçada são os próprios pais da criança que, de início, diziam que não saíam de Portugal enquanto a filha não fosse encontrada, mas agora que são arguidos decidem que talvez seja melhor irem-se embora. Talvez seja porque, entretanto, a conta bancária que tinha sido aberta para ajudar e encontrar a Madeleine já esteja bem recheada. Com aquele dinheiro todo, eu também aproveitava para fazer uma viagem.

Por fim, a polícia constitui arguidos os pais da criança, aplica-lhes termo de identidade e residência, diz que em breve irá proceder a detenções e, dias depois, eles saem do país. Resta-me esperar que a polícia tenha mais informação do que eu e que depois explique tudo devagarinho, como se fossemos todos crianças de 4 anos porque, se é só isto, sem dúvida que há muita coisa que ninguém vai perceber. É melhor chamarmos o macaco Gervásio! Se ele conseguiu fazer a separação do lixo em menos de 2 horas, pode ser que também consiga encontrar a Madeleine, fazer as detenções e explicar o processo à população.

publicado por bonecatenebrosa às 13:16
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Quinta-feira, 2 de Agosto de 2007

É para partir a loiça toda

A SIC decidiu pôr um puto que parece saído do The Omen - O Génio do Mal a partir 3 televisões em cerca de 5 segundos. Depois disto, até passa para segundo plano o facto do governo ter pago 30 euros a miúdos para testarem os computadores... Mas voltando ao assunto inicial, surgiu logo gente preocupada com a forma como aquele comportamento poderia influenciar as crianças, tornando-as mais violentas.

Sinceramente, o que me preocupa é que o puto deve ter sido pago para fazer aquele trabalho. Admito ter uma certa inveja, tendo em conta que, só de ver o anúncio das Chiquititas, também já me apeteceu rachar a televisão à machadada e ninguém me iria pagar para isso. No fundo, parece-me que aquele anúncio pode ser contraproducente, dando a ideia que a programação da SIC é tão má (ou boa mas tardia) que só apetece partir a televisão...

Quanto ao incentivo à violência, algumas pessoas podem achar que aquilo que eu vou dizer é quase uma heresia, mas é o que eu penso: a violência é adaptativa. Aquilo que nos distingue dos outros animais não é a linguagem nem a inteligência, mas sim a capacidade para usar a violência de forma diversificada.

Passo a explicar. Está provado que outros animais também comunicam, basta ver programas da vida animal e não restam grandes dúvidas que, embora possam usar sistemas de comunicação bem mais rudimentares, não deixam de ser formas de linguagem. Ainda que não possuam inteligência abstracta, vários animais, desde ratos a macacos, dispõem de uma inteligência de tipo concreto, não muito diferente da de uma criança de 5 anos que percebe que pondo o banco em cima da mesa e trepando, consegue alcançar a caixa das bolachas. No entanto, a maior parte das espécies animais apenas usa a violência em 4 situações: auto-defesa, delimitação e protecção do seu território, alimentação e obtenção de supremacia enquanto parceiro sexual.

Importa agora partilhar convosco uma história que um professor meu contou, em tempos numa aula. Devo dizer que foi um dos professores mais espectaculares que já tive e um dos mais prestigiados na sua área. A história era esta: um grupo de primatas (penso que eram chimpanzés) vivia numa comunidade à qual vamos chamar Grupo A. Como é normal, um dia, o líder do grupo foi desafiado por outro e o líder ganhou. No entanto, deu-se algo novo, já que o seu desafiador retirou-se do Grupo A e foi viver para outro território, tendo sido seguido por alguns elementos que também faziam parte do Grupo A. Formou assim o Grupo B que, devido à sua distância geográfica, não representava qualquer tipo de ameaça para o Grupo A, em qualquer um dos níveis que mencionei no parágrafo anterior. No entanto, os membros do Grupo A seguiram o Grupo B e exterminaram-no.

Serve esta história para mostrar que, um dos animais que é evolutivamente mais próximo do Homem, é um dos poucos (ou talvez o único) que usa a violência para obter vingança ou por puro prazer. Assim sendo, se nos consideramos tão evoluídos, temos de admitir a hipótese de que a violência pode ter uma função evolutiva e adaptativa.

Ora, a violência não surgiu só depois do aparecimento da televisão. Todos os países (ou territórios) que conhecemos hoje foram formados através do recurso à violência: duas ou mais facções combateram e os resultados permitiram o estabelecimento das fronteiras tal como as conhecemos. Aliás, desafio aqui qualquer pessoa a indicar o nome de um país que, ao longo da sua história, nunca tenha sido palco de uma guerra com outro território ou entre vários elementos do mesmo território.

As crianças não são diferentes do resto das pessoas e aprendem facilmente. A televisão, quanto muito, potencia essa aprendizagem mas, se uma criança nunca vir televisão na vida, vai aprender a ser violenta à mesma porque o simples facto de conviver com pais, irmãos, amigos, inimigos e/ou desconhecidos, vai conduzir a uma aprendizagem social da violência que, quanto muito, pode ser mais ou menos controlada.

O mundo é violento, os telejornais provam-no bem. A existir, uma pessoa totalmente pacífica, facilmente se tornaria num verdadeiro saco de pancada. Falando honestamente: se no mundo todos fossemos pacíficos e, subitamente, uma pessoa se tornasse violenta, quem acham que ia durar mais tempo? Os pacíficos unidos ou o violento sozinho? Caramba, até o Gandhi era violento no sentido em que, pacificamente, oferecia resistência! Portanto, deixem-se de pieguices sobre a violência na televisão. O telejornal, com toda a sua violência, é um dos programas mais educativos que se pode encontrar.

publicado por bonecatenebrosa às 11:10
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Segunda-feira, 4 de Junho de 2007

A importância de uma erecção

Ainda no mês passado, um indivíduo condenado por três crimes de tentativa de abuso sexual de crianças e pelo crime de abuso sexual de criança (um rapaz de 13 anos) na forma continuada, viu a sua pena ser reduzida de 7,5 anos para 5 anos pelo Supremo Tribunal de Justiça. Diz o STJ que é diferente praticar esses actos com uma criança de 5 ou 6 anos ou com um jovem de 13 anos "que despertou já para a puberdade e que é capaz de erecção e de actos ligados à sexualidade que dependem da sua vontade". Apesar da longevidade da maior parte dos juízes do STJ, acho que é uma boa altura para perguntar se, eles próprios, alguma vez passaram da puberdade.

Há alguns anos ficou famoso o acórdão em que se fazia referência à "coutada do macho ibérico". Para quem não sabe ou não se lembra, duas turistas foram violadas por um português. O facto de não terem consigo companhia masculina que as protegesse e de estarem com roupas frescas em pleno Verão parece ter sido o suficiente para que os doutos juízes achassem que elas estavam a pedi-las e, vai daí, reduziram a pena ao violador. Afinal, num país tão católico, parece que há quem ache que as mulheres só devem sair de casa na companhia de homens e, de preferência, usando burka. Se andam para aí a mostrar a carninha, essas badalhocas sujeitam-se...

Há não tanto tempo, outra história interessante, foi a de uma mulher assassinada pelo marido, depois de vários anos de maus-tratos. Desta feita, a pena do homicida foi reduzida porque, aparentemente, a mulher cozinhava mal e não sabia passar a roupa a ferro como deve ser. Grande vaca! Então o coitado do homem casou-se com ela cheio de vontade de a amar e respeitar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença e enquanto lhe arreia porrada, e essa estúpida não sabe cozinhar nem passar a ferro? Será que ela não estava satisfeita com o ordenado de empregada doméstica? Ou será que ele não lhe pagava porque, ao fim ao cabo, se casou com ela, ser empregada deveria vir por acréscimo? Acho que os juízes do STJ são desta opinião.

Ainda mais recentemente foi a história dos maus-tratos da responsável de um lar às crianças deficientes mentais que estavam institucionalizadas nesse local. O STJ acha que as estaladas e palmadas que a senhora dava eram um castigo lícito, aceitável e normal que qualquer "bom pai de família" poderia dar no exercício das suas funções educativas. Sou da opinião que as crianças, de uma maneira geral, não ficam traumatizadas por levar uma palmada e, nalguns casos, acho que as palmadas têm uma função muito pedagógica, principalmente em miúdos mimados que fazem birras por tudo e por nada e ainda batem na avó. No entanto, parece que a senhora não se limitava a dar palmadas, também fechava os miúdos na despensa às escuras e amarrava-os à cama. Isto já não me parece tão pedagógico, principalmente se relembrarmos que são crianças com deficiências mentais. Mas os senhores juízes, como "bons pais de família" que devem ser, lá sabem o que fazem no recato do seu lar às respectivas mulheres e filhos.

E chega-se assim ao caso actual, do rapaz de 13 anos, vítima da abuso sexual e capaz de erecção. Embora eu entenda a lógica de o aumento da idade da criança justificar a redução da pena ao abusador, esta é apenas uma pequena parte da questão. Eu entendo que este tipo de crime, tal como outros crimes que agora não interessam, possa ter nuances que importa considerar, como por exemplo o tipo de abuso (apalpão é diferente de penetração), a regularidade (uma vez é diferente de todos os dias), etc. O que não interessa nada é se o rapaz já atingiu a puberdade ou não. Aliás, uma rapariga pode atingir a puberdade aos 8 anos enquanto outra atinge apenas aos 16 e isso não torna a primeira mais madura e capaz de tomar decisões relativamente à sua vida sexual do que a segunda. O que interessa é que a lei define que a prática de actos sexuais com crianças até ao 14 anos configura crime de abuso sexual, pelo que a puberdade não é para aqui chamada. Daqui a nada, os juízes aparecem mascarados como num antigo anúncio da Evax, dizendo "Sou a tua menstruação, vamos fazer uma festa, trouxe confetis e, já agora, se abusarem sexualmente de ti, a partir de hoje estás por tua conta".

Não é preciso eu ser homem para saber que uma erecção não é um acto voluntário: acontece durante o sono ao homem adormecido e, já agora, durante um enforcamento ao homem enforcado. Os juízes, sendo na sua maioria homens, ainda deveriam saber isso melhor que eu. No entanto, parece-me que estão demasiado ocupados a fazer juízos morais e de valores, para se preocuparem em tratar os assuntos com objectividade e exactidão. É triste, porque a continuar assim, não falta muito para que em vez de um STJ tenhamos uma Suprema Milícia Popular.

publicado por bonecatenebrosa às 11:25
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Quarta-feira, 23 de Maio de 2007

Parem tudo o que estão a fazer

Pois bem, a Polícia Judiciária, a Polícia Britânica, a Europol e a Interpol podem parar as buscas da Madeleine. Os jornalistas portugueses, britânicos e do resto do mundo e arredores podem levantar arraiais da Praia da Luz. O problema está resolvido. A miúda vai reaparecer após um momento de profundo arrependimento e comoção por parte do(s) raptor(es), vai estar sã e salva e vai juntar-se alegremente à sua família. E tudo isto porquê? Porque os seus pais vão a Fátima!

Isto vai deixar a Nossa Senhora numa posição muito incómoda. Por um lado, se a miúda continuar sem aparecer, é motivo para dizer "Então Fátima? As pessoas rezam, fazem promessas e eu não te vejo a fazer nada, fico chateada!", por outro lado, se a miúda aparece, é razão para questionar "Oh Fátima, então deixa-se uma criança inocente por aí, nas mãos de bandidos, só para satisfazer caprichos? Não está certo!".

Acho que este incidente diplomático ainda vai descambar num incidente teológico...

publicado por bonecatenebrosa às 00:14
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Terça-feira, 15 de Maio de 2007

Não deixo mesmo passar uma

Diz o Correio da Manhã que há um peregrino que se destaca entre os restantes por percorrer 300 km a pé, numa estrada sobreaquecida, tratando-se de uma criança de 9 anos que vai cumprir uma promessa com a mãe. E todos parecem achar este comportamento louvável.

Pois agora digo eu: onde andam as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens? É que um miúdo de 9 anos apenas entende de religião aquilo que os pais querem que ele entenda. Ora, se ele não tem discernimento para votar, também não tem para pagar promessas e, tratando-se de um comportamento que pode ter consequências graves para a saúde do miúdo, parece-me que estamos perante um caso de maus-tratos infantis.

É claro que ele pode estar a adorar o passeio! Do mesmo modo que um miúdo que trabalhe nas obras pode adorar andar em cima de andaimes... No entanto, no segundo caso, todos deitam as mãos à cabeça e lincham os pais do puto. Enquanto neste caso, por ser uma peregrinação a Fátima, está tudo bem e, provavelmente, vão canonizar o miúdo e a mãe dele.

publicado por bonecatenebrosa às 17:27
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