Tenho a maior empatia pelos professores nas lutas que travam contra os diversos governos que os querem privar dos mais variados direitos. Compreendo que seja difícil passar anos sem ser colocado, andar de terra em terra quando finalmente se consegue colocação, aguentar turmas de putos mal comportados com famílias que ainda são piores que eles, estar submetidos a sistemas de avaliação cada vez mais macarrónicos, etc, etc, etc.
Mas também admito que me custa um bocado ver os professores receberem tanta atenção por estas questões quando há profissionais das mais diversas áreas que passam pelo mesmo e ninguém ouve falar deles. Não sou professora, mas desde que comecei a trabalhar de forma supostamente remunerada, também tive de fazer deslocações, também tive de lidar com horários absurdos, superiores hierárquicos que não têm a mínima noção da realidade do local de trabalho, falhas de comunicação que tirariam a paciência a um santo e que, no cúmulo, poderiam ser chamadas, pura e simplesmente, de mentiras e, tudo isto sem contar os ordenados que estão em atraso.
É claro que sou livre de sair de lá e provavelmente é isso mesmo que vai acontecer muito em breve. Mas as alternativas não são muito melhores. Conheço a realidade dos Centros de Emprego porque já por lá passei. São as maiores anedotas de todos os tempos! Estar em casa, por muito apelativo que possa parecer durante algum tempo, também farta e, infelizmente, não põe comida na mesa.
Fica o desabafo...
Eu até costumava simpatizar com a ideia da flexibilidade mas, a verdade, é que nos últimos tempos tenho-a visto ser aplicada em dois contextos que não me agradam muito:
1 - Pelos técnicos do Centro de Emprego que, do alto da sua sabedoria, recomendam aos desempregados ou aspirantes ao primeiro emprego que recebam formação em temas que não têm absolutamente nada a ver com as suas áreas de formação e/ou competências. Eles argumentam que é importante ser polivalente. Acredito que sim. Mas a verdade é que depois de 5 anos a pagar propinas para fazer o curso, se eu quisesse ser polivalente ia lavar escadas e não precisava da ajuda deles para nada. Chamo a atenção para o facto de não ter nada contra quem lava escadas, pelo contrário, quando a senhora que lava a escada do meu prédio faz um mau trabalho (como é costume), gostava que houvesse um curso que a ensinasse a fazer isso melhor. Mas a verdade, por muito que me custe, é que se as áreas que me propõem no Centro de Emprego me interessassem, eram essas que eu tinha escolhido logo à partida. Talvez eu esteja a ser muito exigente, mas esta situação revolta-me um bocado.
2 - Quando, fartos do Centro de Emprego, aceitamos um emprego miserável e sem quaisquer condições e o patrão muda as regras a meio do jogo. E muda para pior (afinal parece que é mesmo possível)! Ainda mais giro é quando ele já teve inúmeras oportunidades para informar os reles funcionários e não os informa. É aqui que surge outra actividade, de extrema importância no contexto sócio-cultural-económico nacional que é a do diz-que-disse. Aparentemente, em meio laboral, esta é a forma privilegiada de divulgar informação...
De hoje em diante, acho que a palavra "flexibilidade" deveria ser abolida destes dois contextos, e substituída por "contorcionismo" ou "fractura da coluna vertebral". Fica a sugestão e o desabafo.
. A nobre arte de ser flexí...