Terça-feira, 1 de Julho de 2008

O conto de fadas europeu

Era uma vez um continente que, apesar de não ser necessariamente fanático com a imposição da democracia, também gostava de apregoar as suas qualidades democráticas e respeito pelos direitos dos cidadãos.

Nesse continente, ao qual vamos dar o nome fictício de Europa, houve um dia um país que decidiu pôr em prática aquilo de que muitos dos outros só falavam, e deu aos cidadãos o direito de escolher sobre o futuro do continente e dos países que dele fazem parte. Vamos chamar Irlanda a esse país.

Por outro lado, os outros países, com receio de que os cidadãos não apoiassem as vontades dos seus governantes, optaram por não dar a palavra aos cidadãos, pelo que os seus governos tomaram as decisões de forma arrogante e unilateral.

No entanto, a democracia venceu. Ao contrário do que os governantes desejavam, o povo irlandês não concordou com aquilo que lhes queriam impor.

Os governantes dos outros países reagiram de forma muito negativa. Esbracejaram, estrebucharam, disseram enormidades e chegaram a ameaçar dar à Irlanda uma maçã envenenada, expulsando-a da União de países europeus.

Afinal, os países que diziam ser democráticos, pareciam não gostar da democracia quando ela contrariava os interesses dos seus governantes.

Agora, também o presidente de um país ao qual vamos chamar Polónia veio recusar o tratado que os restantes países europeus queriam impor. E outros países teriam também recusado o tratado se a escolha tivesse estado nas mãos do povo.

O resto do conto de fadas ainda está por escrever. Não percam os próximos capítulos, onde vamos saber se os países europeus abolem a democracia ou se finalmente não decidir implementá-la sem restrições.

publicado por bonecatenebrosa às 10:00
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2 comentários:
De planiciemetalica a 5 de Julho de 2008 às 22:55
Só lamento que os irlandeses e os polacos tenham tomado uma decisão que considero certa (a rejeição do tratado de Lisboa) por motivos que considero tristes, sendo um deles o medo de que a UE os obrigasse a alterar a legislação super-restritiva contra o aborto (que foi uma tecla onde os grupos anti-europeístas irlandeses bateram constantemente para assustar o eleitorado católico).
De bonecatenebrosa a 6 de Julho de 2008 às 18:46
Tens razão, e aliás essa seria uma das poucas alterações positivas impostas pelo tratado. De qualquer modo, agradeço-lhes o "não" ao tratado, e quanto às políticas do aborto, eles que deixem de ser hipócritas, evoluam e modifiquem as políticas. Ou então, continuem a incentivar o turismo nos países vizinhos.

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