Segunda-feira, 7 de Julho de 2008

A fome e a vontade de comer

Foi hoje divulgado um estudo que mostra a existência de taxas elevadas de violência entre casais jovens. Sinceramente não me surpreende, por dois motivos: tendo em conta os níveis de violência doméstica entre adultos e considerando que são os adultos que (des)educam os jovens, acho que os jovens estão em muitas das vezes a seguir o exemplo com que se deparam. Aliás, se eu fosse jovem e lesse as crónicas do Sr. Miguel Sousa Tavares também ficaria cheia de vontade de espancar alguém, mas como eu e ele não somos vizinhos, acho que ele já se safou.

O outro motivo é a... não queria usar a palavra estupidez, a... vá ajudem-me... chamemos-lhes as limitações intelectuais de muitos jovens. O Ministério da Educação estimula o facilitismo e isso tem consequências. Os jovens não se habituam a pensar de forma aprofundada, a longo prazo, nem a esperar pelas recompensas e sejamos realistas, qual é a maneira mais rápida de se conseguir o quer se quer de alguém? É com porrada! Junta-se o querer algo ao saber que não há represálias e o resultado está à vista, com jeitinho, ainda conseguimos que a população em geral e até o Supremo Tribunal de Justiça, dê razão ao criminoso e culpe a vítima. Talvez entre jovens não surjam argumentos como "ela queimava a comida" ou "ela não passava a roupa a ferro" mas outros igualmente interessantes como "ela recusou-se a ver os Morangos com Açúcar comigo" ou "ela recusou fazer-me os trabalhos de casa".

Não quero com isto dizer que a minha geração (e as anteriores à minha) são melhores, porque não são. Bem pelo contrário! Dantes, se uma mulher apanhava do marido, namorado, pai, irmão, ou quem quer que fosse, tinha de comer e calar e o assunto nem sequer era tema de telejornal. Agora, ao menos, há informação. E se alguém que já apanhou ou que venha a apanhar do(a) namorado(a) ler este post, aqui ficam uns pequenos pensamentos: a culpa nunca é da vítima, o ciúme é sinal de possessividade e não de amor, não há desculpa para a agressão (seja ela física, emocional ou sexual) a probabilidade do agressor mudar é praticamente nula e quem bate uma vez, também bate duas ou três.

Isto fui eu a fazer mais serviço público que a maior parte dos órgãos de comunicação social, que se limitam a relatar resultados, mas não desconstroem ideias pré-concebidas. Depois lemos os fóruns de discussão com perguntas inteligentes como "qual é o mal de bater na namorada se ela gosta?". Ainda gostava de saber se alguém perguntou à moça se, de facto, gosta ou não, isto porque o facto de alguém levar pancada e continuar numa relação não é sinónimo de gostar. Pode significar medo, vergonha, falta de compreensão da própria situação ou receio de ouvir "bocas" do tipo "então mas não gostavas de apanhar?". Para as criaturas que têm esta dificuldade de compreensão, façam este esforço: imaginem que são mal pagos e que, cada vez que se queixam, alguém vos diz "então, és mal pago porque gostas"! Se calhar não é bem assim...

publicado por bonecatenebrosa às 19:50
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Quarta-feira, 14 de Novembro de 2007

Uma bola de pano num charco, um sorriso traquina, um chuto

Vi no Sapo uma notícia que achei digna do Dia das Mentiras: "O francês Michel Platini, presidente da UEFA, pretende combater a violência nos estádios obrigando os espectadores adultos a fazer-se acompanhar de uma criança".

Devem estar a gozar comigo! Não, esperem, isto merece mais pontos de exclamação: !!!!!!!!!!. Pronto, já me sinto melhor. Esta é das ideias mais ridículas que já vi na minha vida. Só podia vir de uma pessoa ligada ao futebol, estes gajos parece que só têm esperteza para subornar árbitros e, mesmo assim, às vezes são apanhados.

Aqui fica o manual para a utilização de crianças no futebol, em 7 passos:

1.º - Se não tem filhos, afilhados, sobrinhos ou qualquer criança na sua família, peça uma emprestada.

2.º - Se não conseguir pedir nenhuma emprestada, vá a um acampamento cigano e alugue uma. Esta ideia não deve ser original minha. Com o jeito que os ciganos têm para o negócio, já deve haver ciganos à porta de algumas repartições de finanças e segurança social e alugar miúdos para o pessoal levar crianças ao colo e assim ter prioridade.

3.º - Se, ainda assim, não resultar, rapte uma. Começo a acreditar que a Maddie desapareceu porque alguém a quis levar ao futebol. A PJ devia começar a procurar em estádios...

4.º - Se o jogo decorrer de forma pacífica, óptimo.

5.º - Se o jogo der para a porrada e você for medricas, use a criança como escudo. Quando chegar à rua e encontrar jornalistas, faça um ar angustiado e chore dizendo que nem a criança foi poupada.

6.º - Se o jogo der para a porrada e você for do tipo educador, mostre à criança, recorrendo a exemplos, as melhores técnicas de agressão e de defesa.

7.º - Se o jogo der para a porrada e você quiser alinhar, use a criança como arma de arremesso; no meio da confusão, ninguém vai perceber quem foi.

Duvido que a ideia do senhor Platini resulte no sentido de diminuir a violência nos estádios. Em compensação, as crianças vão aprender desde muito cedo algumas técnicas de sobrevivência, a selecção natural vai entrar em acção, a medicina pediátrica vai ser a especialidade do futuro e o Carlos do Carmo vai pegar naquela parte d' Os Putos em que diz "E a força de ser criança contra a força de um chui que é bruto" e substituir "chui" por "adepto".

publicado por bonecatenebrosa às 11:56
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Domingo, 21 de Outubro de 2007

Passa cá por casa, mas só de 3 em 3 anos

O Monsenhor Luciano Guerra, sacerdote da igreja católica, disse recentemente que em determinadas circunstâncias o divórcio era aceitável. Homem progressista! Assim mesmo é que se fala. Aliás, já pensaram bem na quantidade de problemas que um homem corajoso como ele pode arranjar na hierarquia da igreja por dizer uma heresia destas. Caramba, é preciso tê-los no sítio...

A seguir exemplificou que uma dessa situações era quando uma mulher é vítima de violência doméstica todos os dias. E sublinha "todos os dias". Sim, porque depois acrescentou que, se só levasse um murro de 3 em 3 anos, se calhar não se justificava pedir o divórcio. Desculpem lá, eu não quero chatear ninguém com picuinhices, mas gostava que o senhor fosse um bocadinho mais específico. E se for um estalo de mão aberta uma vez por mês? E se for um pontapé nos rins de 5 em 5 anos? E se for um puxão de cabelos semanal? E se, uma vez na vida, num momento de loucura, tentar matá-la à machadada? E se for ao contrário e for a mulher a dar um murro ao marido de 3 em 3 anos?

Convém definir estas coisas. Se sabemos que, por vezes, os casamentos falham por falta de comunicação, vamos comunicar agora para que um dia o sagrado matrimónio não falhe por falta de porrada.

Agora lembrei-me que como os padres não casam, não podem desfrutar dessa maravilha que é o espancamento. Se fizerem muita questão, eu não me importo que venham cá a casa de 3 em 3 anos para eu os esmurrar. Seria para mim um martírio, mas como o martírio também é enaltecido pela igreja católica, ao menos assim a minha entrada no reino dos céus estaria garantida. Aleluia!

publicado por bonecatenebrosa às 15:10
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Terça-feira, 4 de Setembro de 2007

A culpa não foi minha

Há algum tempo, um canal televisivo decidiu passar uma espécie de documentário sobre as pessoas que passam muito tempo em frente ao computador, principalmente os viciados em videojogos. Obviamente, não tive paciência para ver sequer 5 minutos do referido programa. E isto porquê?

O início da reportagem era parecido com isto: mostravam vários prédios, de noite, com luzes acesas e diziam que por detrás daquelas luzes estavam viciados em frente aos respectivos computadores. Reparem, não podiam ser pessoas a chegar a casa do trabalho, a tratar das suas lides domésticas, a ver TV, a ler um livro, a conviver com amigos, a ter sexo com a luz acesa, em frente ao computador a fazer outra coisa qualquer que não seja jogar, ou até simplesmente alguém que nem sequer está em casa e que se esqueceu de apagar a luz ao sair. Não, eram obviamente viciados em videojogos ou jogos online...

Depois vinham os juízos de valor sobre a forma como a internet mudou os padrões de socialização das pessoas. As pessoas já não convivem pessoalmente umas com as outras, já não têm amigos reais mas sim amigos virtuais. Os videojogos e jogos online, em particular, são criações de satanás com o objectivo de tornar as pessoas violentas e anti-sociais. E isto sem pensar nos perigos para a segurança de todos e, principalmente, das pobres criancinhas que, apesar de estarem mais violentas devido aos videojogos, continuam à mercê de todo o tipo de tarados! Como se pode ver, a internet é responsável por todos os males do mundo.

Agora, aqui ficam as minhas respostas a este tipo de preocupações:

1 - Quem já tinha amigos reais, continua a tê-los. Nunca ouvi falar de ninguém que tivesse dito a um amigo "olha, agora já não quero mais nada contigo porque tenho amigos virtuais melhores que tu". Assim sendo, continua a ter amigos reais e ainda tem amigos virtuais, o que quer dizer que se aperfeiçoou socialmente.

2 - Quem já não tinha amigos reais, provavelmente já era uma pessoa com problemas de socialização de qualquer maneira e, neste caso, a internet até pode ajudar a socializar. Ou seja, mais vale ter um amigo virtual do que não ter nenhum.

3 - Quanto aos crimes que podem ser cometidos ou facilitados através da internet, como por exemplo burlas, estas também já existiam antes, apenas noutros formatos. E para aqueles que estão tão preocupados com a segurança das crianças, lembrem-se que já havia homicídio, rapto, abuso sexual, pedofilia e muitas outras coisas antes da internet existir. Se as crianças dão a estranhos dados pessoais que não deviam dar, o que falha é a educação. Porque, no fundo, uma criança que faz isso através da internet, também falaria com qualquer estranho que lhe aparecesse na rua e que tivesse uma história minimamente bem construída do género "sou amigo dos teus pais".

4 - Quanto aos jogos, já havia jogos violentos antes de existir internet ou mesmo computadores. Por exemplo, a batalha naval é um jogo violento... Pensando já nos videojogos, até o pac-man é um jogo violento. Mas, tal como já disse anteriormente no post "é para partir a loiça toda", a vida é violenta! Uma pessoa pode sair calmamente à rua e ser trucidada por um condutor bêbado, pode ser esfaqueada para lhe roubarem uns reles trocados, pode andar todos os dias a levar carolos dos colegas de turma, pode ver o telejornal e ser exposta às imagens violentas dos atentados diários que há em Bagdad, and so on... No fim de contas, se a pessoa passar o dia a jogar jogos violentos e nunca sair de casa, continua a expor-se à violência mas a probabilidade de ser vítima de um acto violento diminui exponencialmente.

5 - Em tempos, quando os fósforos surgiram pela primeira vez, também foram demonizados por gente que dizia que eles iam provocar a perdição da humanidade e que podiam causar grandes desastres se se acendessem sozinhos. Não vejo agora ninguém a falar do efeito prejudicial dos fósforos... Houve um sujeito que matou os pais dizendo que eram agentes da Matrix e também há quem mate dizendo que foi Deus que mandou. Se calhar fazíamos melhor se fossemos pedir satisfações a Deus. Parece-me que com os videojogos é a mesma coisa: servem de desculpa para tudo, é como dizer "eu não tenho culpa, eu não queria mas os videojogos obrigaram-me". O rapaz coreano que, há algum tempo, massacrou os seus colegas de escola nos EUA, parece que só costumava jogar Sonic the Hedgehog! Honestamente, vi o ouriço fazer muita coisa estúpida mas acho que nunca o vi massacrar colegas de escola.

Portanto, e para finalizar, deixem-se de tretas e, da próxima vez que quiserem fazer uma reportagem sobre o efeito prejudicial das novas tecnologias, falem dos canais televisivos que, à falta de terem temas interessantes para apresentar, transmitem reportagens sensacionalistas com o único intuito de alarmar a população.

publicado por bonecatenebrosa às 12:26
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Quinta-feira, 2 de Agosto de 2007

É para partir a loiça toda

A SIC decidiu pôr um puto que parece saído do The Omen - O Génio do Mal a partir 3 televisões em cerca de 5 segundos. Depois disto, até passa para segundo plano o facto do governo ter pago 30 euros a miúdos para testarem os computadores... Mas voltando ao assunto inicial, surgiu logo gente preocupada com a forma como aquele comportamento poderia influenciar as crianças, tornando-as mais violentas.

Sinceramente, o que me preocupa é que o puto deve ter sido pago para fazer aquele trabalho. Admito ter uma certa inveja, tendo em conta que, só de ver o anúncio das Chiquititas, também já me apeteceu rachar a televisão à machadada e ninguém me iria pagar para isso. No fundo, parece-me que aquele anúncio pode ser contraproducente, dando a ideia que a programação da SIC é tão má (ou boa mas tardia) que só apetece partir a televisão...

Quanto ao incentivo à violência, algumas pessoas podem achar que aquilo que eu vou dizer é quase uma heresia, mas é o que eu penso: a violência é adaptativa. Aquilo que nos distingue dos outros animais não é a linguagem nem a inteligência, mas sim a capacidade para usar a violência de forma diversificada.

Passo a explicar. Está provado que outros animais também comunicam, basta ver programas da vida animal e não restam grandes dúvidas que, embora possam usar sistemas de comunicação bem mais rudimentares, não deixam de ser formas de linguagem. Ainda que não possuam inteligência abstracta, vários animais, desde ratos a macacos, dispõem de uma inteligência de tipo concreto, não muito diferente da de uma criança de 5 anos que percebe que pondo o banco em cima da mesa e trepando, consegue alcançar a caixa das bolachas. No entanto, a maior parte das espécies animais apenas usa a violência em 4 situações: auto-defesa, delimitação e protecção do seu território, alimentação e obtenção de supremacia enquanto parceiro sexual.

Importa agora partilhar convosco uma história que um professor meu contou, em tempos numa aula. Devo dizer que foi um dos professores mais espectaculares que já tive e um dos mais prestigiados na sua área. A história era esta: um grupo de primatas (penso que eram chimpanzés) vivia numa comunidade à qual vamos chamar Grupo A. Como é normal, um dia, o líder do grupo foi desafiado por outro e o líder ganhou. No entanto, deu-se algo novo, já que o seu desafiador retirou-se do Grupo A e foi viver para outro território, tendo sido seguido por alguns elementos que também faziam parte do Grupo A. Formou assim o Grupo B que, devido à sua distância geográfica, não representava qualquer tipo de ameaça para o Grupo A, em qualquer um dos níveis que mencionei no parágrafo anterior. No entanto, os membros do Grupo A seguiram o Grupo B e exterminaram-no.

Serve esta história para mostrar que, um dos animais que é evolutivamente mais próximo do Homem, é um dos poucos (ou talvez o único) que usa a violência para obter vingança ou por puro prazer. Assim sendo, se nos consideramos tão evoluídos, temos de admitir a hipótese de que a violência pode ter uma função evolutiva e adaptativa.

Ora, a violência não surgiu só depois do aparecimento da televisão. Todos os países (ou territórios) que conhecemos hoje foram formados através do recurso à violência: duas ou mais facções combateram e os resultados permitiram o estabelecimento das fronteiras tal como as conhecemos. Aliás, desafio aqui qualquer pessoa a indicar o nome de um país que, ao longo da sua história, nunca tenha sido palco de uma guerra com outro território ou entre vários elementos do mesmo território.

As crianças não são diferentes do resto das pessoas e aprendem facilmente. A televisão, quanto muito, potencia essa aprendizagem mas, se uma criança nunca vir televisão na vida, vai aprender a ser violenta à mesma porque o simples facto de conviver com pais, irmãos, amigos, inimigos e/ou desconhecidos, vai conduzir a uma aprendizagem social da violência que, quanto muito, pode ser mais ou menos controlada.

O mundo é violento, os telejornais provam-no bem. A existir, uma pessoa totalmente pacífica, facilmente se tornaria num verdadeiro saco de pancada. Falando honestamente: se no mundo todos fossemos pacíficos e, subitamente, uma pessoa se tornasse violenta, quem acham que ia durar mais tempo? Os pacíficos unidos ou o violento sozinho? Caramba, até o Gandhi era violento no sentido em que, pacificamente, oferecia resistência! Portanto, deixem-se de pieguices sobre a violência na televisão. O telejornal, com toda a sua violência, é um dos programas mais educativos que se pode encontrar.

publicado por bonecatenebrosa às 11:10
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