Há já muito tempo que eu deixei de me enojar facilmente e isto também é válido para os restaurantes e respectivas cozinhas. No sítio onde vivo, há um restaurante que é considerado pelos guias Michelin como um dos melhores, tem várias estrelas e, no entanto, na época das inundações, é ver as baratas a fugirem de lá...
Deixei de me preocupar porque, a bem da verdade, quando se vai a um restaurante, nunca se sabe muito bem o que se está a comer, nem o que o cozinheiro coçou antes de preparar a comida, nem se o empregado de mesa espirrou para cima do prato, etc. Do mesmo modo, deixar de comer fora também não é grande solução, porque eu não sei como é tratada a comida que compro para ter em casa. Sei lá se o talhante ou a peixeira têm febre tifóide e se o funcionário fabril que embalou as bolachas ou pôs os rótulos nos iogurtes tem ébola! Consequentemente, e como não posso viver sem comida nem posso ter uma horta, recuso-me a ficar paranóica por causa disto. Tenho mesmo que comer e calar.
Esta conversa toda para dizer que, recentemente, fui com a minha mana a um restaurante onde já temos ido outras vezes mas, desta feita, quando tirei o guardanapo de cima do prato, estava lá uma baratinha morta. Era mesmo pequenina, quase parecia um bicho-de-conta, não era daquelas cascudas e viscosas, e acho que isso pesou na nossa reacção calma e controlada. Afinal de contas, devemos algum respeito a criaturinhas que já cá andavam antes de nós, que continuam vivas algum tempo depois de decapitadas e que resistem à radiação.
Levantei-me e levando o prato (e a barata) comigo, dirigi-me a um funcionário, a quem entreguei o prato e, tranquilamente, pedi outro. Ele desfez-se em desculpas (devia era ter feito um desconto no final), deu-me outro prato e a coisa ficou por ali.
Mas agora dei por mim a pensar: e se nós, por sermos clientes habituais, tivemos o privilégio de sermos apresentadas à mascote do restaurante e não lhe demos o devido valor? Pior ainda: ela estava morta! E se eles acharem que nós lhes matamos a mascote? Imaginem o sofrimento deles: "Etelvina, minha baratinha de estimação, fala comigo. Volta Etelvina, não nos deixes, por favor. Aquelas malvadas mataram-te mas nós vamos vingar a tua morte!". Não sei porque me lembrei de chamar a bicha de Etelvina, as Etelvinas que me desculpem, mas já pensaram na tristeza de perder assim uma mascote que nos é querida?
Bolas, por causa deste meu coração de manteiga já estou com lágrimas nos olhos...
Geralmente preocupo-me com o ambiente (em especial com a vida animal) e, por isso, decidi ver um pouco do Live Earth. Foi uma decisão que mantive durante pouco tempo, porque apesar dos meus interesses ambientais e musicais, a minha paciência para aturar as hipocrisias associadas tem limites.
Chateiam-me solenemente as mensagens de rodapé do tipo "acendam velas porque é romântico e gasta menos energia", "separem o lixo", "usem energia solar", and so on... Será que estas pessoas querem convencer-me que não vão de carro para o trabalho, que não usam roupas e sapatos que implicam a morte de animais e gastos energéticos, que não usam ambientadores e desinfectantes e que, se tiverem publicidade no pára-brisas do carro, guardam o papel para levá-lo ao ecoponto? Já para não falar que, para mandarem as sms para o programa, utilizaram o telemóvel e, consequentemente, gastaram energia. Algumas sugestões: vamos demolir as casas, plantar árvores, despir as roupas, e vamos viver para o bosque, com uma mão na frente e outra atrás, esperar que a fruta caia das árvores para podermos comê-la.
E o argumento do "vamos fazer um mundo melhor para os nossos filhos e netos". Mas filhos e netos de quem? Se eu não tiver filhos nem netos posso estar-me borrifando? Perguntem aos vossos filhos e netos se gostavam de viver sem televisão, computador, leitor de DVD, mp3, playstation, etc. Depois digam-me as respostas para eu ver se os filhos e netos estão, de facto, interessados em viver num mundo melhor, ou se simplesmente querem viver confortavelmente no mundo que têm. Abdiquem das comodidades primeiro e depois, quando estiverem de novo no tempo das cavernas, a matarem-se à mocada por um naco de carne crua, vejam lá se não preferiam a carninha comprada no supermercado, para o qual se deslocaram de carro, que transportaram em sacos de plástico, que é preparada num fogão e à qual juntam uma quantidade de ingredientes manipulados industrialmente e embalados.
E a propósito de comida, para mim o cúmulo foi quando o Nuno Markl disse que tinha ido comer uma carcaça e que tinha mandado um bocado fora, ao que a Catarina Furtado perguntou se ele tinha dado um beijinho no pão antes de o pôr no lixo. Isto porque, segundo ela, tinha mandado fora algo indispensável e que fazia falta a muita gente... Acho que os neurónios da Catarina estavam em greve ou em Hamburgo a ouvir algum concerto! Em primeiro porque, se até para os animais "os restos não são uma alimentação completa", acho que a suposta solidariedade da Catarina devia levá-la a dar aos pobrezinhos comida em primeira mão, e não aquilo que são os restos dos outros. Em segundo, imaginem esta situação: eu sou uma criancinha africana (por exemplo, da Etiópia), já vi a minha família toda a morrer pelos mais variados motivos, tenho a barriga grande de fome e já nem tenho forças para enxotar as moscas que tenho à volta dos olhos e, de repente, alguém passa por mim e diz-me "olha, acabei de mandar fora um bocado de pão, mas não fiques lixado porque eu dei-lhe um beijinhos antes, já que é algo tão precioso para ti". Acho que, nesse momento, se conseguisse reunir forças para alguma coisa, seria para partir a cara ao cabrão que me dissesse isso. Depois podia morrer em paz!
Será que a Catarina, quando tiver o segundo filho, vai pari-lo no meio do mato, em sintonia com a natureza? É que nos hospitais produz-se montes de lixo e é chato para o ambiente... E se pensarmos nas fraldas de que vai precisar! É melhor usar as de pano porque as descartáveis poluem mais. Mas as de pano precisam de água para serem lavadas. Oh, dilema! Talvez o melhor seja não ter filhos. Ao menos assim não teria de se preocupar com o planeta que vai deixar para eles...
Continuo a achar, sem muitas preocupações, que o fim do mundo está para breve. Tenciono estar lá e até já consigo imaginar as baratinhas a esfregarem as patinhas de contentamento. Quanto ao Live Earth, valeu pela música. De boas intenções está o inferno cheio.
Diz assim a página inicial do sapo: "Mais de 100 milhões de pessoas sofrerão da doença de Alzheimer em todo o mundo em 2050, segundo um novo estudo hoje divulgado numa conferência sobre esta patologia.".
Digo assim eu: "Mas vocês acreditam mesmo que ainda cá vai andar alguém em 2050? Mesmo que seja a sofrer de Alzheimer?". Os senhores que fazem estes estudos são um bocadinho ingénuos. Só um bocadinho...
A meu ver, o mundo tal como o conhecemos vai acabar ainda na próxima década. Aliás, vou ver se começo a preparar-me para esse espectacular evento, ao qual tenciono comparecer. Não é por não ter grandes alternativas, é mesmo porque estou ansiosa para que chegue o grande dia.
E não sou só eu! Todas as baratas que conheço estão em pulgas (atenção, baratas em pulgas) para dominar o mundo após o nosso desaparecimento. Assim sendo, vamos lá cuidar do ambiente para deixar um planetinha porreiro às baratas que ficarem cá a viver. Juizinho!
. Vamos todos dar as mãos e...
. Ansiosamente esperando o ...